Há 300 anos Zacimba Gaba foi sequestrada e vendida como escrava para o Brasil. O fazendeiro português José Trancoso a comprou, no Porto da Aldeia de São Matheus, na Capitania do Espírito Santo, junto com uma dúzia de escravizados de Angola e a levou para a região de Costa Dourada, município de Mucuri.
Durante anos Zacimba foi cruelmente castigada por não obedecer ao fazendeiro. Percebendo que ela recebia tratamento diferente entre os pretos ela foi arrastada da senzala até à Casa Grande, para ser interrogada pelo senhor, que queria saber se era verdade o boato que se espalhava por todos os lugares de que ela era uma princesa.
Depois de dias e muitas chibatadas, ela confessou sua verdadeira identidade: Zacimba Gaba, princesa da nação de Cabinda. E foi estuprada depois disso pelo senhor e o capataz.
Cabinda fica localizada na baía do mesmo nome, na costa oeste da África, em Angola. Teve sua população quase que dizimada, com seus homens e jovens aprisionados e mandados como escravos para o Brasil.
O fazendeiro, sabendo que os seus escravos, em grande maioria, vinham de Angola, e que poderiam invadir a Casa Grande para libertá-la, passou a avisar que, se alguma coisa acontecesse a ele ou à sua família, “Zacimba seria morta”.
Com o passar do tempo, a jovem princesa, aprisionada na Casa Grande, sob ameaça permanente, castigos e sendo violentada pelo fazendeiro e pelo capataz, crescia e tomava coragem para enfrentar, sozinha, o senhor. Ela tinha proibido que os compatriotas tentassem libertá-la e passou a elaborar planos de fuga e de vingança. Zacimba também sofria ao ouvir os lamentos de seu povo sendo cortado no chicote, amarrado no tronco e levado aos ferros, durante os anos que se passaram.
Para a pedagoga e quilombola Olindina Serafim Nascimento, a luta de Zacimba significava, além da busca pela liberdade, a busca pela sua dignidade humana. "Foi um sistema escravista que tirava do povo negro a sua humanidade e era isso que Zacimba Gaba não permitia: que tirasse dela sua humanidade. Durante todo o tempo que ela viveu escravizada, o pensamento dela era de que ela era um ser livre e precisava libertar os seus. Guerra para liberdade, guerra para resistência, é isso que Zacimba Gaba é", conta Olindina. Uma das armas mais poderosas e silenciosas que os escravos usavam contra os senhores ou feitores que eram muito desumanos e humilhantes era o envenenamento.O mais utilizado pelos escravos era o “pó de amansar sinhô” veneno extraído da cabeça da Jararaca, uma cobra temida pelo seu veneno mortal, característica do Vale do Cricaré. Esse veneno era usado por matar com pequenas doses e não logo que ingerido.
Os senhores daquela época, até pegarem confiança em quem preparava a comida, obrigava os escravos a experimentarem tudo primeiro. Se não acontecesse nada, o senhor comia. Para não envenenar ninguém do seu povo, Zacimba levou anos para conseguir finalizar o seu plano.
Um dia o senhor da fazenda caiu envenenado, e logo Zacimba deu a ordem para seus súditos que estavam na senzala invadirem a fazenda. Todos os torturadores foram mortos e a família do senhor da fazenda foi poupada. Depois deste episódio, Zacimba fugiu junto com os outros pretos e criou seu próprio quilombo, onde hoje está localizado o município de Itaúnas.
Zacimba não esqueceu de seu povo que ainda era escravizado e passou o resto da sua vida libertando os escravos, atacando os navios negreiros que os traziam como prisioneiros. Morreu como uma princesa guerreira, invadindo um navio para libertar seu povo.
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Amanda de Carli
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